
Aos 30 anos, o baiano Wagner Maniçoba Moura traz um currículo significativo. São 15 filmes, duas novelas e uma minissérie. Nessa trajetória, o ator vive seu primeiro vilão na TV, o Olavo de ‘Paraíso Tropical’. Com o trabalho na novela dirigida por Dennis Carvalho, Wagner confessa que se diverte: “Novela é uma brincadeira. Me divirto muito com essa cara”, diz ele sobre o personagem.Apesar de tanta animação em fazer um folhetim, ele reconhece que é o teatro que o deixa mais inteligente: “Vim do teatro e aprendi tudo lá. Fazer uma peça me remete a esse passado”, acredita. Casado há seis anos com a fotógrafa Sandra Delgado, 29, ele é pai de Ben, de 9 meses.Antes de ser ator, Wagner se formou em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia. Ele gosta de lembrar que o lúdico de sua infância pobre na cidade de Rodelas, no interior baiano, lhe deu conteúdo para aplicar na profissão. “Qualquer coisa virava uma brincadeira, como agora”.
Como está sendo viver o Olavo?
Estou adorando fazer. Tem a coisa de poder brincar com os chavões da novela, cenas de traição, de amor. A novela é uma brincadeirona para mim. Fazer novela é uma diversão. A impressão que tenho é que volto para a infância.
É nítido que você se diverte nas cenas...
Estou adorando fazer com a Camila (Pitanga) esse cara - tão metido - apaixonado pela piranha.
Você tinha medo de se tornar famoso e não conseguir caminhar anônimo na rua. Como está agora?
É super tranqüilo. Sempre procurei fazer tudo que fazia sempre, nunca deixei de ir a nenhum lugar. Não tenho medo de assédio. No carnaval de Salvador saio na rua, na pipoca (fora da corda de proteção que isola o público com abadá). E geralmente o assédio das pessoas é bem legal. Às vezes, uma vez ou outra, é que vem uma situação desagradável, mas dou uma driblada. É assim porque eu não me escondo e não sou um cara que está sempre na revista.
E para compor o Olavo, você buscou referências no cotidiano?
O cotidiano dos homens de terno eu vivi um pouco em 'A Lua Me Disse', em que fazia o Gustavo. A diferença é que ele era um cara bonzinho. Hoje o meu trabalho é todo em cima do texto do Gilberto Braga. Não fui procurar nada. Só sei que é um personagem bom, com uma dramaticidade forte. Acho que ele tem uma história que vai aparecer ainda, da morte do pai. É um segredo que está guardado e que acho que vai ser desvendado mais para frente.
Você teve uma infância maravilhosa no interior da Bahia. O que isso soma a sua profissão?
É a coisa da piração. O nosso trabalho é um pouco como brincadeira de criança que finge ser batman na infância. É um pouco a continuação disso hoje em dia. Não fui criado dentro de um apartamento. Para mim, a cidade inteira na época era um playground muito grande. Qualquer coisa virava uma brincadeira. Isso talvez tenha exercitado o lúdico na minha cabeça.
Quais são seus projetos depois da novela?
Voltar para o teatro. Fiz uma peça em 2005, 'Dilúvio em Tempos de Seca', com a Giulia Gam. E desde então não fiz mais nada. Sou um ator que veio do teatro e ele me alimenta muito. Acho que quando faço teatro fico mais inteligente e fico melhor ator até para fazer as outras coisas. Tenho sentido falta. Estou arrumandou um projetinho de teatro.
Você acha que a televisão limita o ator?
Não. No meu caso particular, vim do teatro. Aprendi tudo lá. E quando volto, me religo a valores fundamentais do meu trabalho me questionando porque sou ator, porque faço isso, são links que me alimentam muito, me deixam mais inteiro.
Como é a sua relação com a TV?
Nunca pensei que fosse me adaptar tão bem. A televisão me ensinou muita coisa. Inclusive a lidar com a rapidez. Você tem que se aprontar muito rápido para uma cena. Ela exige um aprendizado rápido do ator. Fora as coisas que a TV te proporciona que são muito legais. Conviver com os profissionais de televisão, conhecer os colegas, os diretores, estou apaixonado pelo Dennis (Carvalho). Um cara que sabe muito de televisão, generoso. É a televisão que dá ao ator popularidade para poder bancar projetos pequenos, plano de saúde, salário mensal. A televisão no Brasil tem uma estrutura que o cinema não tem e que o teatro está longe de ter. A televisão empresta uma dignidade à profissão do ator que é importante. A televisão empresta uma dignidade à profissão do ator que é importante.
Você teve uma adolescência em Salvador muito fechada, sem se relacionar com ninguém. Acha que o teatro abriu sua vida?
No teatro achei uma turma parecida comigo. A adolescência é uma época muito difícil. Era muito sozinho. Não me achava muito parecido com a maioria das pessoas que frequentava a minha escola. No teatro achei a galera que tinha mais a ver comigo. Aí fui relaxando mais.
Entrevista de Luciana Tecidio da Globo.com